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O Mundo Perdido – O que ele nos ensina sobre ciência?


Originalmente publicado serialmente na Strand Magazine entre Abril e Novembro de 1912, The Lost World (O Mundo Perdido, em português) é um misto de romance e ficção científica, produto da mente brilhante do escritor britânico Arthur Conan Doyle. Se você não sabe, Doyle é muito famoso por ter criado um dos mais famosos personagens de todos os tempos: Sherlock Holmes. Mas voltemos ao Mundo Perdido.


Ansiando por atender aos requisitos de sua amada, que deseja para ela um homem bravo e aventureiro, Ned Malone, um jornalista, é levado a conhecer o professor Challenger, sujeitinho inteligentíssimo e igualmente esnobe, irritante e beligerante. Mas Malone crê que Challenger pode ser a sua chance de desbravar o heroísmo. A razão?


O professor Challenger, alguns poucos anos antes, viajou até a América do Sul e voltou de lá com histórias no mínimo estranhas, tendo até mesmo virado motivo de chacota entre os seus pares por conta delas. Malone vai até Challenger ouvir o que o rabugento professor tem a dizer. Após um confusão inicial, Malone e Challenger têm uma conversa interessante.

Challenger conta para Malone que, há dois anos, fez uma viagem à América do Sul - uma que, segundo ele, se tornaria clássica na história científica do mundo. O objetivo da jornada era verificar algumas conclusões de Wallace e Bates, o que só poderia ser feito, Challenger enfatizou, observando os fatos relatados nas mesmas condições em que eles mesmos os haviam observado.


Quando voltava de sua expedição, Challenger passou uma noite em uma pequena aldeia indígena, cujo nome e localização geográfica o beligerante professor se recusava revelar. Lá, os índios, notando as habilidades médicas de Challenger, sinalizaram para que este viesse a ajudar um necessitado. Para a surpresa de Challenger, ao entrar em um abrigo indígena, deu de cara com um homem branco, que segundo os índios havia chegado ali completamente exausto. Infelizmente, Challenger nada pôde fazer e o homem morreu. Ao julgar pela sua condição, era claro que havia passado por grandes dificuldades. Challenger, então, avaliando os pertences do falecido, descobriu que tratava-se de um poeta e artista. Quando já ia se retirando, Challenger notou que o homem carregava consigo uma espécie de cadernos de rascunhos.


Voltando ao tempo presente, Challenger entrega o caderno a Malone e pede para que ele o folheie.


Após páginas e páginas de coisas pouco interessantes para um jornalista, Malone se depara com um desenho de uma criatura monstruosa, grotesca, jamais vista na face da terra nos dias de hoje. Indagado pelo professor sobre o que levaria um artista a desenhar aquilo, Malone responde que bebida poderia muito bem ser o caso. Challenger, por outro lado, diz que, em sua visão, a melhor explicação é o que o artista viu aquela criatura e a desenhou. Acontece que aquela criatura esboçada não era qualquer uma – tratava-se de um estegossauro. Não bastasse isso, Challenger diz a Malone que encontrou o lugar no qual esteve o falecido artista e que, ali, ele próprio deu de cara com um pterossauro, o qual ele teria abatido, mas que, por causa de um acidente que ocorreu ao temível professor, somente lhe restara parte de uma asa. Adicionalmente, o professor contava com uma foto de um desses répteis voadores.


Enquanto que as evidências apresentadas pelo professor convenceram Malone, o mesmo não pode ser dito da comunidade científica. Para ela, Challenger era um charlatão, suas supostas evidências de dinossauros e pterossauros viventes nos dias atuais eram fracas ou até mesmo fraudes completas.


Naquele mesmo dia em que Malone se encontrou com Challenger, houve uma reunião da comunidade científica, na qual, para resumir a conversa, Challenger conseguiu que fosse montada uma expedição com o propósito expresso de corroborar ou falsear suas alegações. E Malone é quem nos conta como foi a expedição e o que encontraram por lá. Para saber, você mesmo pode ler a obra.


Mas o que tudo isso tem a ver com ciência?


Bom, imagine que você é um cientista, como o professor Challenger, e acreditar ter descoberto algo fantástico! A comunidade científica, você sabe, certamente lhe pedirá evidências. Contudo, você só consegue lhes fornecer um relato duvidoso, alguns rabiscos em um caderno de um artista, que poderia muito bem simplesmente ter imaginado aquilo, uma foto cuja qualidade não é das melhores, de tal maneira que a possibilidade de fraude não é absurda, e o melhor que você tem é um pedaço de alguma coisa e um discurso de “eu só não trouxe mais porque perdi tudo em um acidente”. Você imagina que iriam mesmo acreditar em você? Sagan já dizia, alegações extraordinárias requerem evidências extraordinárias.


Por outro lado, por mais que a sua história seja bem esquisita e a evidência fraca, a comunidade científica ganhará algo se ficar apenas fazendo chacota, dizendo “não, não é verdade!” ou que você não passa de um charlatão? Obviamente que não!


Pode ser que você tenha razão e que por acaso a qualidade da sua evidência tenha sido prejudicada. Pode ser, contrariamente, que a comunidade esteja certa e que você tenha batido a cabeça durante a viagem. O que pode ser feito para resolver a questão? Ora, exatamente o que fizeram para o caso Challenger: testar!


DOYLE, Arthur Conan. O Mundo perdido,'(rad. São Paulo: Clube do Livro/Melho, 1912.


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